Na semana passada correu a notícia de que o ex-presidente Michel Temer estava tentando organizar uma candidatura de “centro-direita” com quatro governadores que certamente anistiarão o Jair se forem eleitos presidente (Tarcísio, Caiado, Zema e Ratinho Jr.) e Eduardo Leite, que não sabemos se anistiaria.
A ideia seria discutir a candidatura a partir de um programa semelhante ao contido no documento “Ponte para o Futuro”, manifesto que garantiu apoio da elite ao impeachment de Dilma.
Ao que parece, Temer estava tentando enquadrar o movimento de direita que já se articula para 2026 em outros termos: com Eduardo Leite ali na cota para não golpistas e, o que é mais importante, sem mencionar o Jair.
O candidato até poderia ser o mesmo, Tarcísio de Freitas. Porém, Tarcísio seria um bebê reborn com a cara do Temer, não com a cara do Jair.
Os bolsonaristas ficaram indignadíssimos. Fabio Wajngarten ameaçou lançar uma chapa puro-sangue de extrema direita. Malafaia disse que, sem Jair, a candidata deveria ser Michelle. Wajngarten, em conversa com Mauro Cid descoberta pela polícia, já havia dito que preferia Lula a Michele. Flávio Bolsonaro ficou mais chocado com Temer do que teria ficado se o cara que lhe vendeu a mansão lhe tivesse perguntado de onde saiu tanto dinheiro vivo. Tarcísio se apressou em dizer que não existe direita sem Bolsonaro, o que, se você pedir para o Google traduzir para o português, quer dizer “au, au”.
Foi o suficiente para Temer recuar e dizer que Bolsonaro pode perfeitamente participar da frente de centro-direita. Afinal, no Brasil “centro” é só o negócio em que os ricos querem votar.
Também chamou atenção o pouco entusiasmo entre os governadores com a ideia de um “Ponte para o Futuro 2”.
Não é por acaso: “Ponte” foi um bom manifesto para o impeachment, que não dependia de voto popular. Para ganhar eleição, desde 2018 o plano é falar de liberalismo em evento empresarial e concentrar a campanha em pautas de costumes e disseminação de notícias falsas no grupo de zap da Igreja. Esse é o grande fascínio que o bolsonarismo exerce sobre os ricos: é uma estratégia de ganhar voto de pobre sem precisar aumentar salário.
Seria ótimo se os governadores de direita se distanciassem do golpismo, mas nem nesse aspecto a articulação de Temer era muito promissora.
Michel Temer chegou à presidência em 2016 ao fim de um processo de impeachment que muita gente até hoje considera um golpe.
Quando Jair tentou um golpe de manual, indiscutível, Temer poderia ter limpado um pouco sua barra dizendo: olha só, isso aí, sim, é golpe. Eu não tentei matar a Dilma como o Jair tentou matar o Lula, o Alckmin, o Xandão. Eu não apresentei aos chefes das Forças Armadas uma proposta de destruição de todas as liberdades democráticas. Eu não tentei explodir o aeroporto de Brasília na véspera de Natal, eu não mandei o Eduardo Cunha e o Geddel quebrarem tudo na praça dos Três Poderes.
Ao invés de usar esse argumento, Michel resolveu dizer que tudo isso que o Jair fez também não foi golpe. Aí fica difícil, filho.
Enfim, a discussão sobre se Tarcísio será um bebê Jair reborn ou um bebê Temer reborn confirmou que a direita brasileira continua fortíssima, mas ainda não parou de piorar.
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