As cenas vistas nos últimos dias na favela do Moinho são chocantes. Policiais militares apontando armas para moradores indefesos e intimidando crianças. Pessoas atingidas por balas de borracha. Bolsas escolares sendo revistadas. Mães desesperadas porque não conseguiam levar seus filhos na creche.
Valia tudo, jogar bombas, derrubar casas, humilhar trabalhadores. Um clima de terror se instalou no local porque o governador Tarcísio de Freitas quer eliminar a comunidade do mapa, como parte dos seus planos de reurbanização dos Campos Elíseos.
Houve, enfim, um acordo com o governo federal, dono do terreno da favela, para garantir moradia digna para as cerca de 800 famílias que moram ali, mas fazia tempo que não se via a polícia tão feroz, com sangue no olho, diante de pessoas inocentes. Não se tratou de uma luta contra o crime, mas contra o povo.
Esse ímpeto se explica pela mentalidade beligerante de Tarcísio, que trabalha afinado com o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, capitão da PM hoje na reserva. Ele fez parte do Batalhão Rota a partir dos 24 anos. Foi afastado da tropa quatro anos depois por causa do número excessivo de mortes em serviço.
Não é por acaso que as mortes cometidas por policiais militares em São Paulo tiveram um aumento de 98% nos dois primeiros anos do governo Tarcísio. As forças de segurança pública estão mais dispostas a atacar sabendo que têm o respaldo da cúpula do governo para cometer atos extremos.
Entre janeiro e novembro de 2022, último ano da gestão do governador em exercício Rodrigo Garcia, foram 355 mortes causadas pela polícia. No mesmo período de 2023, primeiro ano do governo Tarcísio, o número subiu para 406. E, em 2024, essas ocorrências letais saltaram para 702.
Esses dados são do Gaesp-MPSP (Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público) e incluem as mortes cometidas por policiais militares em serviço e de folga.
Por sorte não morreu ninguém no Moinho e a situação chegou a bom termo. Se o conflito persistisse, porém, muito provavelmente aconteceria o pior, pois os moradores da favela não iriam abrir mão de seus direitos. Ao fazerem uma manifestação na avenida Rio Branco foram dispersados por tiros e bombas.
Coisas absurdas têm acontecido nesse governo. Em dezembro do ano passado, por exemplo, um vídeo flagrou um policial militar jogando um homem do alto de uma ponte no bairro Cidade Ademar, na zona sul. O caso ocorreu depois que a vítima foi perseguida por agentes do 24º Batalhão da Polícia Militar, em Diadema.
Em novembro, Gabriel Renan da Silva Soares, um homem negro de 26 anos, foi morto com tiros nas costas disparados por um policial de folga, em frente a um mercado no Jardim Prudência, na zona sul. Ele havia furtado produtos de limpeza. Em depoimento, o policial que atirou, Vinicius de Lima Britto, disse que agiu em legítima defesa
A polícia que Tarcísio comanda é a mais violenta dos últimos tempos. Age com brutalidade, especialmente contra a população pobre e periférica, e mata com mais facilidade que a de governos anteriores. O que aconteceu no Moinho mostra que a truculência é uma marca dessa gestão e que a morte está à espreita.
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