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Sigo tentando entender que filmes podemos ver no streaming – 06/05/2025 – Bia Braune

Meu nível de exigência nem é muito alto. Eu só queria sentar no sofá e ter, ao alcance de um clique, tanto “Os Sete Samurais”, do Kurosawa, quanto “Três Solteirões e um Bebê“. Qual a dificuldade nisso?

Não estou pedindo nada extremo, tipo “Cinderela Baiana”, com a Carla Perez, ou “Salò”, do Pasolini. Sendo que este último, justiça seja feita, chegou a entrar para o catálogo da Disney apesar de seus “120 Dias de Sodoma”. Enfim, cada um sabe da sua sétima arte ao alcance das crianças. Meu objetivo é achar “A Noite”, do Antonioni, sem que o algoritmo dos streamings me empurre “As Aventuras de Poliana”.

Rebobinando memórias de videolocadora —uma palavra que já soa tão mofada quanto uma fita VHS—, volto a tempos sem Letterboxd. Uma era “pré-memética”, porém não menos “absolute cinema”. Quando não dispúnhamos de apps como o JustWatch, apenas de catálogos cuspidos por impressoras matriciais quase sem tinta.

Dentre as ratazanas frequentadoras desse cineclube nerd e analógico, lembro-me dos “Scorseses de bairro”. Julgando-se cinéfilos profissionais, furavam fila e compareciam ao balcão com encartes da revista Set.

Nós, o populacho da pipoca, que nos resignássemos a revirar caixas vazias. Sim, porque de tão preciosos os filmes eram guardados lá dentro, feito diamantes da Pantera Cor-de-Rosa. Sucateados gloriosamente com as investigações do Inspetor Clouseau.

O auge desse festim diabólico era alugar três títulos por vez, o que nos concedia o privilégio de retê-los em casa durante todo o fim de semana. Numa equivalência cinematográfica à antiga garrafa de vidro de refrigerante, que com um litro só abastecia, com folga, toda e qualquer matinê em família.

Falando nela, o único clássico que minha família escolheu maratonar unida foi “O Casamento de Maria Braun”. Pela analogia a nosso sobrenome, despencado de uma letra, mas porque meu pai fazia parte do público que botava “Amarcord” e “O Ataque dos Tomates Assassinos” na mesma prateleira.

Contudo, no que a heroína acendeu um cigarro e o filme foi pelos ares, vovó quase teve um treco e a vaia se instaurou dramática, que nem cotação de zero no site Rotten Tomatoes.

Bombando, literalmente, aquela bilheteria doméstica. Resta-me passar horas frente a uma tela inicial, perdida num mosaico de opções. Resmungando sobre a gigantesca oferta de “tem, mas acabou”. Na esperança de que achar filme para ver volte a ser a maior diversão.


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