Levando em conta a minha experiência pessoal e os relatos que ouvi de dezenas de pacientes, resolvi conversar com alguns profissionais especializados no assunto para entender por que é tão difícil encontrar um profissional qualificado nesta área. Quando telefonei para o presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), Carlos Marcelo de Barros, ele me disse que eu estava tentando escrever sobre algo que é inexistente.
“Hoje, o ensino de dor não é institucional na graduação das universidades, não está presente na grade. E aí você forma profissionais totalmente incapacitados, que maltratam os pacientes em hospitais. A única maneira de proteger a população é ensinar todos os profissionais de saúde, e não apenas médicos, a reconhecer o que é a dor, entender o que ela significa para cada paciente e orientá-lo da maneira correta”, explica Barros, que é professor de anestesiologia, dor e cuidados paliativos na Faculdade de Medicina da Unifal-MG (Universidade Federal de Alfenas).
Infelizmente, não encontrei dados sobre a presença de disciplinas específicas voltadas ao estudo da dor nos cursos do Brasil. Mas os médicos com quem conversei, todos professores, me contaram que tiveram pouquíssimo contato com o tema durante a graduação —e que até hoje muitos cursos são assim.
“A fisiopatologia da dor (estudo de como a dor é processada pelo corpo) foi matéria do segundo ano. Ela acontecia dentro de um olhar bastante biológico e descontextualizado da vivência do médico”, disse Fernanda Fukushima, pesquisadora e professora na pós-graduação em anestesiologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Segundo a médica, a Unesp criou, em 2018, uma disciplina pioneira em que o ensino dos aspectos biológicos foram integrados aos fatores psicológicos, sociais e espirituais da experiência dolorosa. Um caminho que, segundo ela, começa a formar profissionais mais conscientes.
