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Odete Roitman é a malvada favorita – 13/05/2025 – Claudio Manoel

Do muito (e põe muito nisso) que se tem falado sobre a nova Odete Roitman, uma ênfase importante está na questão que gerou o debate, que causou milhares de posts, milhões de likes, despertou seguidores e haters nas mais diversas plataformas (incluindo, acredito, as petrolíferas), em torno da constatação de que a tão aguardada versão da mitológica supervilã nesse remake, em vez de despertar antagonismo, tem caído no agrado do público.

Muitos estão amando a que era para ser odiada.

A partir daí, tome-lhe de teorias sociológicas instantâneas, analogias express, comparações interépocas (desfavoráveis aos tempos atuais, é claro), metáforas em profusão e toda uma avalanche de análises de especialistas, influencers, youtubers, tiktokers e os mais diversos palpiteirers, monetizados ou não.

Meu pitaco então não faz falta nem diferença, mesmo assim não serei bobo de ficar fora dessa. Vou só mudar um pouco o rumo da prosa, sem ter a menor pretensão de encerrar o assunto, ou até mesmo atrapalhar a conversa.

Antes de mais nada, para todos que assistiram a versão original, mas que poucos parecem ter lembrança, uma revelação bomba: Odete Roitman não era sequer a vilã da novela, quanto mais uma satanás de tailleur.

Ela era antipática, elitista, arrogante, sincericida, intolerante, mas a vilã sempre foi a Maria de Fátima. Uma é empresária bem-sucedida, milionária e mandona, a outra roubou a própria mãe. Tanto em 1988 quanto agora, o público em geral não ficou com muita dúvida de quem é o bicho ruim da parada.

Quem quer anabolizar a vilania de Dona Odete é que talvez queira puxar demais a brasa para rotular capitalistas e privilegiados de automáticos vilões megablasters (parece que, no caso das business women, não rola esse papo de sororidade). É uma régua para julgar maldades e malvadas, mas não a única. Existem outras percepções e prioridades.

Tem muita gente que ainda se incomoda mais com quem é trambiqueira, picareta e faz de tudo para passar a perna nos outros do que com quem é metida a besta e até preconceituosa, mas vive do que conseguiu com o próprio suor e, mesmo às vezes desastradamente, tenta mostrar preocupação com os seus.

Se arrogância, empáfia e tratar mal os subalternos fossem os defeitos mais inaceitáveis para o grande público, muita gente não tinha sido nem eleita ou chegado perto de fazer sucesso.

E isso porque a personagem é feminina. Se essas características (mandão, impaciente, antipático etc) definissem um profissional homem, no ambiente corporativo, até poucos anos atrás, o cabra ia ser promovido. E nunca seria assunto de novela.

Isso está mudando e é bom que mude, mas as coisas sempre vão, como diz o poeta, “com passos de formiga e sem vontade”.

Madame Roitman pode não ser flor que se cheire, mas é menos perigosa do que pretendiam que ela fosse, ainda mais em comparação com a vilania grosseira e sem limites da verdadeira bandida do folhetim.

O que talvez tenha mudado de lá pra cá é que a quantidade de bandidagem e maldades, de todos os tipos e níveis, que nos cerca de tudo que é jeito a todo o momento, aumentou tanto, mas tanto, que não tem mais malvada de ficção que faça frente a tudo o que acontece antes de cada capítulo, no programa anterior: o Jornal Nacional.


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