Uma mãe jovem, com cinco filhos, mora em uma cidade empobrecida da Califórnia. À medida que seu filho mais velho avança na educação formal, ela percebe que a escola não o levará para a universidade, mas para o crime e/ou a drogadição. Então, decide mudar o rumo da família.
O novo papa, americano e sensível ao tema das desigualdades, se interessará pelo livro “Seeking Shelter: A Working Mother, Her Children, and a Story of Homelessness in America” (Em busca de abrigo: uma mãe trabalhadora, seus filhos e uma história de pessoas sem teto nos Estados Unidos), do escritor Jeff Hobbs, publicado no início deste ano.
A protagonista decide mudar a família para um bairro de Los Angeles onde a escola pública tem melhor qualidade. Mas comete um erro de cálculo e, pelos cinco anos seguintes, ela e as cinco crianças, de dois a 11 anos, viverão nas ruas ou em abrigos provisórios. A partir dessa experiência, o leitor é apresentado ao tema da desigualdade nos EUA e convidado a refletir sobre como lidar com o problema dos moradores de rua nas grandes cidades.
Embora se passe em Los Angeles, cidade do cinema, o livro não conta uma história espetacular, mas algo comum e banal, sem promessa de final feliz. E o autor não molda seus personagens em uma narrativa de superação —tão típica do rótulo hollywoodiano. É a história de uma mãe que se divide entre os empregos possíveis e o esforço para proteger os filhos.
O autor mostra como um texto seco, sem sentimentalismos, quase exclusivamente descritivo e factual, pode produzir uma história de suspense. Fui fisgado desde o início pela maneira crua e direta com que ele conta os desafios cotidianos dessa família.
Nem jornalismo nem literatura nem sociologia: o livro escapa desses gêneros e, ao mesmo tempo, carrega o melhor de cada um.
Da sociologia, herda o interesse em examinar um caso com sobriedade e método. Do jornalismo, o desejo de abordar temas atuais da sociedade. E da literatura, a disposição para contar uma história. A leitura flui sem a interrupção de citações; as frases são simples, diretas e livres de jargão.
O autor entrega duas reflexões. A primeira é mostrar que não são apenas pessoas com transtornos psiquiátricos ou drogaditos que vivem essa experiência. É a mesma temática, por exemplo, do filme britânico “Eu, Daniel Blake“, sobre um aposentado que, por um problema burocrático, é despejado.
A outra mensagem é sobre a solução que funciona melhor para reintegrar quem passou pela experiência de viver nas ruas.
Organizações bem-sucedidas têm, entre outras características, vínculo religioso. Pense na atuação do padre Júlio Lancellotti em São Paulo. Além disso, essas instituições atendem poucas famílias, garantindo que o acompanhamento —com treinamentos e assistência— continue mesmo depois de a família se reestabelecer.
O cristianismo aparece de modo discreto, sem proselitismo nem autopromoção. Por isso, não me surpreenderia se Leão 14 o recomendasse também ao vice-presidente J.D. Vance, católico como ele e que escreveu um ótimo livro sobre o descaso do Estado pelos pobres nos EUA.
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