Halle Berry foi a grande estrela da coletiva de apresentação do júri do Festival de Cannes nesta terça (13). A estrela americana teve que responder o mesmo tanto de questões que a presidente do júri, a francesa Juliette Binoche. Não se pode dizer que Berry é presença habitual no festival –só tinha estado no evento há 19 anos, quando ‘X-Men: O Confronto Final’ passou fora de competição.
Um dos jornalistas presentes lembrou que os produtores da franquia James Bond pensaram por um tempo em fazer um spin-off de Jinx, a “bond girl” que ela viveu em “007: Um Novo Dia para Morrer” (2002) –mas depois desistiram da ideia.
E quis saber o que ela pensava de uma ideia que corre na internet há anos: ter uma atriz na pele do grande espião. “Pensando bem… Não sei se 007 deveria ser uma mulher. Houve um momento em que esse spin-off poderia e deveria ter sido feito, mas não foi, e tudo bem”, disse.
Outro quis saber se a vencedora do Oscar por “A Última Ceia” (2002) se sentia “preparada” para avaliar os filmes da Competição de Cannes –uma questão estranha, que raramente é feita a atores e atrizes brancos.
“Só o fato de eu estar nessa indústria por mais de 30 anos já me dá uma perspectiva. Ninguém é dono da verdade aqui, viemos de culturas e famílias diferentes.” Mas não deixou de revelar para onde pende o coração quando o assunto é cinema. “Pessoalmente, gosto de ver cada vez mais mulheres, e mulheres pretas, contando suas histórias.”
Tiroteio de polêmicas
Uma das grandes estrelas do cinema francês há 40 anos e vencedora do Oscar por “O Paciente Inglês” (1996), Juliette Binoche não conseguiu escapar das muitas perguntas sobre os assuntos políticos do momento. Uma jornalista quis saber por que ela não assinou a carta que condena o silêncio do Festival de Cannes sobre o conflito em Gaza, na Palestina.
Publicada segunda (12), a carta conta com 380 assinaturas de artistas como Javier Bardem, Susan Sarandon, Pedro Almodóvar e o brasileiro Kleber Mendonça Filho, que participa da Competição este ano com “O Agente Secreto”. “A razão para isso vocês vão entender depois”, desviou, visivelmente abalada com a pergunta.
Binoche ainda foi indagada sobre a postura protecionista de Trump em relação ao cinema americano. “Vejo que ele está tentando salvar os Estados Unidos e a ele mesmo [save his ass]. Mas temos uma comunidade forte de cinema aqui na Europa para nos defender”.
Ela ainda teve que comentar a condenação de seu colega francês, Gérard Depardieu, que recebeu uma pena de 18 meses por agressão sexual a duas mulheres durante uma filmagem em 2021. O ator ainda pode recorrer em liberdade. “Esse conceito de atores como monstros sagrados sempre me incomodou. Uma estrela de cinema, um rei, um presidente, são todos homens. Quando alguém é dessacralizado, isso nos faz refletir sobre o poder de certas pessoas.”
O júri de Cannes ainda tem no seu time Jeremy Strong, o Kendall Roy, da série “Succession”, que não pôde vir ao festival no ano passado apresentar seu filme “O Aprendiz”. Ele apareceu na coletiva com um chapéu Seu Madruga marrom, no visual mais diferentão de todo o júri.
No filme, ele vive Roy Cohn, um polêmico promotor americano que comandou uma perseguição política a supostos comunistas nos anos 50 nos EUA e foi um dos mentores de Trump no início de carreira. “Cohn foi o pai das fake news e da realidade alternativa. Nestes tempos em que a verdade está sob ataque, a arte é cada vez mais importante. Estou aqui para compensar o que Roy Cohn fez [neste festival] ano passado”, brincou.