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“Montanha-russa” de tarifas nos EUA é fonte de incerteza, diz Stuhlberger, da Verde

Os constantes recuos de Donald Trump nos anúncios de tarifas sobre os parceiros comerciais dos Estados Unidos podem ser comparados a uma montanha russa e mostram que o presidente republicano teve um choque de realidade ao se deparar com a possibilidade de as empresas americanas sofrerem com desabastecimento de insumos. A opinião é de Luis Stuhlberger, CEO e CIO do Fundo Verde, que fez seu evento anual nesta quinta-feira (29), em São Paulo.

“O Trump arregou, voltou atrás sem obter nada da China, a não ser a China voltar as tarifas. (…) O motivo que isso aconteceu é porque ia ter prateleiras vazias nos Estados Unidos. Um monte de indústrias iam parar por falta de peças chinesas”, comentou o economista em sua apresentação do cenário global.

A “roleta russa” foi uma imagem usada por ele por conta das alíquotas anunciadas. Para China, por exemplo, as tarifas escalaram para até 145% até voltarem para cerca de 10% atualmente. Para a União Europeia, a ameaça foi de elevar para 50% (a alíquota), medida que foi adiada até 9 de julho para permitir negociações entre as duas partes.

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Sobre decisão judicial da quarta-feira, quando a Corte de Comércio Internacional dos Estados Unidos decidiu que Trump excedeu sua autoridade ao impor tarifas globais sobre produtos importados, Stuhlberger considerou que o presidente certamente irá recorrer, talvez até à Suprema Corte, onde ele tem uma chance de reverter a decisão. Mas isso deve “aumenta profundamente o grau de incerteza”.

“Quem vai fazer um ‘deal’ com o Trump num grau de incerteza (….) sabendo esse negócio está sub judice nos próprios Estados Unidos? Isso é ‘bad for business’, aumenta a incerteza”.

A outra fonte grande de incerteza que existe na economia americana, lembrou o CEO da Verde é o número de ordens executivas que o Trump utiliza. “As ordens executivas afetam toda a economia americana. Até 23 de maio, o Trump tinha feito 157 ordens executivas, muito acima de todos os outros presidentes e dele mesmo no primeiro mandato”, comparou.

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O economista citou que essas medidas mexem não só com tarifas, mas também com segurança nacional, governo federal, política, comércio, educação, energia, educação , entre outras. “O Trump governa com base no conflito, um conflito permanente dentro dos Estados Unidos com o resto do mundo. Essa é a forma dele governar”, disse

Todo esse contexto caótico está delimitado por um timing político para resolver o imbróglio, que são as eleições de meio de mandato (as ‘mid-term elections’), avaliou Stuhlberger. Ele mostrou gráficos apontando que, se Trump não resolver isso e o grau de incerteza ficar muito alto — e a popularidade dele não melhorar — com a economia desacelerando, haverá forte perda de assentos na Câmara dos Representantes, com os republicanos perdendo a maioria.

Antes da apresentação de Stuhlberger, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco fez uma palestra sobre o cenário global desafiador. Ele também citou o recrudescimento das disputas comerciais entre EUA e China, colocando como um dos motivos a necessidade americana de desvalorizar o dólar.

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Ele disse acreditar que as duas potências vão caminhar para um acordo no qual os chineses poderão finalmente aceitar um valorização do renminbi.