No Troféu Imprensa, a televisão brasileira contempla a si mesma com a lucidez de quem sabe que tudo um dia vai virar reprise. Mas enquanto houver palco, haverá retorno. E enquanto houver retorno, haverá júri, haverá debate, haverá espetáculo. No fim, restará a pergunta que nos condena e nos liberta: “Quem você acha que merecia ganhar?”
E diante dessa questão primordial, como sempre, vacilaremos. Porque a televisão, como a própria vida, não premia necessariamente os melhores. Premia os que continuam aparecendo. Porque diante do caos e da entropia, a única coisa que resta ao ser humano é apontar, votar? ou aplaudir.
Percebo que existem acontecimentos na vida que não pertencem apenas ao presente. Eles existem em camadas de tempo sobrepostas, como se a memória e a realidade decidissem se dar as mãos por um instante. Estrear no júri do Troféu Imprensa foi exatamente isso: não um convite —mas uma convocação cósmica.
Justamente no primeiro ano sem Silvio Santos no palco. O silêncio da sua ausência ecoava entre os refletores. Mas não havia vazio. Havia legado. Havia ritual. Havia continuidade.
Patrícia Abravanel e Celso Portiolli conduziram o programa como arqueólogos emocionais e curadores sentimentais de um templo televisivo recém-redescoberto. O Troféu Imprensa volta ao ar após um hiato —como se o Brasil, por fim, estivesse pronto novamente para encarar sua própria imagem no espelho fosco daquilo que um dia batizamos como cultura de massa.