Toledo, que cobriu a carreira de Collor desde o início, recorda o surgimento do político no cenário nacional em 1989, como “um fenômeno midiático e marqueteiro, coisa que a gente não tinha visto até então na política brasileira”. O colunista destaca que Collor era “candidato jovem, tinha 40 anos, atlético, falava direto para câmera, sabia se relacionar com a câmera, andava de jet ski, posava de kimono como praticante de artes marciais, era vendido em suma como a cara da modernidade da época”.
Essa imagem moderna, no entanto, escondia raízes tradicionais do poder político brasileiro. “Por trás dessa embalagem vistosa, tinha uma estrutura tão velha quanto as oligarquias que dominavam o Brasil e que produziram o Collor”, analisa Toledo. “Collor era filho do ex-senador Arnon de Mello, a família era dona de um império regional de comunicação, lá em Alagoas, jornais, rádio, retransmissão da TV Globo. E usou tudo isso para se projetar nacionalmente.”
O contexto político de 1989, com o desgaste do governo Sarney e o temor das elites em relação à ascensão da esquerda, representada por Lula e Brizola, criou o ambiente perfeito para a candidatura de Collor. “Ele era o candidato com a roupa certa, na hora certa”, define Toledo.
O colunista lembra que Collor se apresentava como alternativa a Ulysses Guimarães, então com 73 anos, “que carregava todo o desgaste da imagem do governo Sarney e, na época, tomava lítio para controlar os efeitos da doença de Parkinson, que estava começando”. Em contraste, Collor “assumiu um discurso ultraliberal, que não era moda na época”, defendendo privatizações e o que chamava de “choque de capitalismo”.
O populismo de Collor tinha como principal bandeira o combate aos “marajás” do serviço público. “Era um clássico do populismo de direita, que é o discurso moralista, mas no fundo elitista e muito performático”, analisa Toledo. Ironicamente, observa ele, “o Collor foi embora, está preso e os marajás continuam aí, passando muito bem, obrigado. Aliás, nunca foram tantos”.
Toledo destaca momentos da relação conflituosa de Collor com a imprensa, especialmente com veículos críticos a seu governo, como a Folha de São Paulo, onde o colunista trabalhava. “Collor hostilizava os veículos que eram críticos a ele e chegou a processar a Folha de São Paulo, quatro jornalistas da Folha de São Paulo, entre eles o diretor de redação, Otávio Frias Filho.”