O desleixo com a memória nacional custou a vida de uma pessoa quando o teto da Igreja de São Francisco de Assis desabou no Pelourinho, em Salvador, em fevereiro. A construção é considerada uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo, um monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Contudo se despedaça. E a responsabilidade pela manutenção não é do Estado (lato sensu). Como ela, há quase uma centena de templos seculares em condições precárias no país (Iphan).
Mas, se a coisa está feia quanto à preservação da memória ligada ao catolicismo na nação que concentra o maior número de católicos do planeta, o que dizer sobre a memória da escravização neste país racista (apesar de concentrar o maior número de afrodescendentes fora da África)?
Nesse caso, o RJ serve de exemplo mais uma vez. A obra necessária para instalação do Centro de Memória do Valongo no Armazém das Docas Dom Pedro 2º, diante do Cais, não avança. No Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN), parte do teto da instituição que abriga as janelas arqueológicas do Cemitério onde foram descartados os corpos de milhares de escravizados mortos recém-chegados ao país desabou em abril (por sorte, ninguém se feriu).
Talvez o descaso com a preservação da memória nacional envolva algum tipo de carência de autoestima pátria. Afinal, não é segredo que muita gente sonha em cruzar o oceano para contemplar tesouros arquitetônicos seculares no exterior. Fato é que a maneira como o Estado brasileiro trata o nosso patrimônio histórico e cultural deixa muito a desejar.
Boa intenção é importante, mas insuficiente diante da cadeia de precarização da cultura, da morosidade burocrática, da falta de investimentos, das falhas de fiscalização e da transferência de responsabilidade a particulares. Como disse o professor Ivair dos Santos, doutor em sociologia pela UnB, “deveria haver uma mobilização nacional pela preservação da nossa história”. Mas não há.
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