Você confiaria num jovem de 26 anos que dá conselhos sobre vinho no Instagram? O negócio de Thomas Sampaio, conhecido como o Jovem do Vinho, era arriscado de partida. Ainda mais se considerarmos que, enquanto seus concorrentes focam no bê-á-bá da bebida, este connoisseur imberbe prefere discorrer sobre as especificidades da Borgonha, munido de garrafas que estampam códigos como “premier cru” —ou seja, muitos cifrões.
Sampaio faz conteúdo para as redes sociais, mas ganha dinheiro mesmo é com produto. Ele tem dois principais: um sistema de indicação de vinhos, o Radar do Jovem, e um streaming com videoaula, o Passaporte do Jovem. Alguns vídeos são aulas explicativas de 1h30; outros têm 15 minutos e mostram visitas a produtores da Borgonha e de outras regiões hypadas. Também comanda um podcast com personalidades do vinho brasileiro e tem uma newsletter.
Esse arsenal editorial é envelopado por uma roupagem curiosa: o “jovem” se veste como se tivesse décadas a mais. “Meu lado jovem me ajuda a criar conteúdos que fogem do padrão, do que as pessoas esperam. E a minha alma velha me ajuda a transitar nesse mundo e conversar com essas pessoas”, afirma.
Com “essas pessoas” ele quer dizer enófilos que se interessam por rótulos caros —como se diz na área, só bebem “canhão”. Por isso, talvez o maior trunfo de vendedor de Sampaio é que, assim como Daisy Buchanan, de “O Grande Gatsby”, a voz dele é “cheia de dinheiro”, afinada durante a adolescência como jogador de golfe da Gávea, no Rio, em passagem por um grande escritório de advogados, e em universidades americanas, com direito a mestrado em negociação e mediação de conflitos na Universidade de Columbia, em Nova York.
Era lá que Sampaio caminhava para um emprego na Kroll, de consultoria de risco, quando veio a pandemia e avinagrou seus planos. De repente, se viu com “um diploma incrível, mas desempregado”, voltando para a casa da mãe, também advogada.
Sem perspectiva, acabou por apostar no hobby adquirido três anos antes, quando provou os dois primeiros rieslings ofertados por um amigo mais velho. Sem querer, acabou se aproximando do mundo do pai, que é padeiro, e usando o superpaladar que ele, com orgulho, diz ter. Criou um clube de vinhos com rótulos 100% nacionais e, poucos meses depois, foi para a importadora Cellar, que tem um portfólio de muitos “canhões” borgonheses, até chegar ao negócio — e à persona — do Jovem do Vinho.
Sua autoconfiança é algo notável, especialmente quando fazemos as contas: são apenas oito anos de litragem, o que o tornou, mais que jovem, um bebê do vinho. A essa impressão, ele rebate: “Sou muito ambicioso e obsessivo, quando gosto de algo, mergulho de cabeça para ser bom. Com o vinho, é igual”.
Vai uma taça?
A crítica Jancis Robinson diz que quem bebe Borgonha é masoquista, porque são os preços mais inflacionados do mercado. Mas, se é o seu caso (ou você pode gastar um pouco mais), vá no Chardonnay Domaine Gautheron Frissons (De la Croix, R$ 235), elegante, vivaz e delicioso, e no Maison Jaffelin Cuvée des Chanoines de Notre-Dame Pinot Noir (Chez France, R$ 209), que tem a acidez das framboesas. Do Brasil, o espumante Casa Valduga Sur Lie Nature Blanc (R$ 99 no site da vinícola), feito com as duas uvas da Borgonha, é elegante e moderninho.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.