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Como identificar sinais de autismo em bebês – 29/04/2025 – Vidas Atípicas

Antigamente (para não dizer até ontem), era corrente a crença de que o autismo só poderia ser diagnosticado após os 2 anos de idade da criança. Ou após os 3 anos. Ou mesmo que atrasos de desenvolvimento em habilidades básicas — como a fala — eram esperados até os 4 anos.

Hoje a ciência tem bem estabelecidos marcos de desenvolvimentos para cada idade, e atrasos podem ser identificados muito antes. Isso significa oportunidade de intervir cedo, num período de ouro do desenvolvimento infantil.

Pesquisadora da UFMG, Poliana Martins estuda sinais de autismo em bebês de até 1 ano.

Em seu mestrado, ela analisou pesquisas científicas sobre sinais de autismo em mais de 20 mil bebês e desenvolveu um instrumento de rastreio nos primeiros meses de vida. Agora, no doutorado, está desenvolvendo o Programa de Intervenção do Primeiro Ano (PIPA), treinando pais de bebês com maior vulnerabilidade para autismo — como irmãos de autistas — usuários do SUS.

“É uma cultura achar que não se deve diagnosticar bebês, sendo que o diagnóstico traz a construção dos suportes necessários para que eles não tenham grandes dificuldades na vida, ou que tenham a menor dificuldade possível”, diz ela, que mantém um perfil nas redes sociais sobre autismo e ciência.

Veja trechos da nossa conversa.

O que sabemos sobre sinais de autismo em bebês?

Minha pesquisa de mestrado fez uma revisão de escopo de sintomas de autismo em bebês no primeiro ano de vida. Escolhi artigos que acompanhavam bebês longitudinalmente de 0 a 3 anos que aos 3 anos eram avaliados e recebiam ou não o diagnóstico. Ao longo do primeiro ano de vida, os sinais de autismo vão aumentando. Alguns bebês atípicos já têm diferenças desde o nascimento, principalmente relacionados a aspectos sensoriais. Mas o que acontece geralmente é que os bebes nascem com mais ou menos as mesmas habilidades — típicos e atípicos — e, com o desenvolvimento, a gente vai vendo os prejuízos de forma mais clara pois as habilidades são construídas na relação com o ambiente.

Como sintomas logo após o nascimento vemos desregulação emocional, desregulação sensório-motora. Um bebê que chora demais, que não consegue mamar, não consegue dormir, não consegue nada — estamos falando de um exagero desses sintomas. Ou bebês que nunca acordam para mamar, nunca choram. Isoladamente, isso não é sintoma de nada. Mas [é sinal de alerta] junto de outros sintomas, como a diminuição da reciprocidade sócio-afetiva, sobretudo pelo contato visual (como o contato visual na mamada); atraso no sorriso social; pouca vocalização ou balbucio. Principalmente no segundo semestre de vida, vemos atrasos em gestos, em imitação e em toda a dinâmica de atenção compartilhada. Até a gente chegar ao atraso de fala, que vai acontecer em regra por volta de 1 ano de idade, que é quando as pessoas vão começar a perceber. Mas não significa que os sintomas não estavam lá, porque a gente espera pouco dos bebês.

Também é muito comum ver atrasos no desenvolvimento motor dos bebês que têm autismo desde o primeiro trimestre de vida. A gente está falando em atrasos de motricidade orofacial, dificuldade de mamada, refluxo porque têm hipotonia. Depois, vemos aquele bebê que alcança os marcos do desenvolvimento, mas que não tem uma qualidade boa do movimento.

Na maior parte das vezes, o autismo mora na redução da qualidade da habilidade, e não na ausência da habilidade.

Por que antes se falava tanto em diagnóstico apenas aos 2 ou 3 anos?

É uma desinformação dos profissionais de saúde, porque hoje sabemos que a melhor evidência mostra estabilidade diagnóstica aos 14 meses de idade. E um bom referencial diagnóstico aos 12 meses. É uma cultura de achar que não se deve diagnosticar bebês, um medo de rotular bebês e de trazer esse peso para o desenvolvimento deles, sendo que o diagnóstico traz a construção dos suportes necessários para que esse bebê não tenha grandes dificuldades na vida dele, ou que tenha a menor dificuldade possível.


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