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Bianca Santana: Indiana e paquistanesa buscam paz – 18/05/2025 – Bianca Santana

Índia e Paquistão voltaram a se enfrentar militarmente neste maio de 2025. Desde 1947, quando os países se tornaram independentes do Reino Unido, eles passaram a disputar a Caxemira. No último dia 7, a Índia iniciou um ataque aéreo e anunciou ser resposta a um atentado contra turistas.


Depois de quatro dias de combate, com pelo menos 44 mortos, 31 do lado paquistanês e 13 do indiano, ambos os países concordaram com o cessar-fogo, anunciado no dia 10. Tanto India como Paquistão se declararam vencedores, propagando cada qual sua retórica nacionalista.

Horas depois do anúncio já se acusavam mutuamente de violações do acordo, com relatos de explosões e ataques. Neste conflito foram utilizados drones armados, uma tecnologia de baixo custo e alta mobilidade, que torna a guerra mais silenciosa, mais automatizada e mais letal. Uma possível escalada, diante da potência nuclear dos dois países, pode ter consequências desastrosas em todo o mundo.

A premiada escritora indiana Arundhati Roy, autora de “O Deus das pequenas coisas”, ativista de direitos humanos e ambientais, historicamente se posiciona contrária à guerra. Ela denuncia que as elites políticas e econômicas criam e alimentam o conflito para seus próprios interesses. Sua declarações mais recentes reacenderam a fúria dos defensores do nacionalismo armado.

Aisha Sarwari, escritora paquistanesa, publicou um ensaio no jornal paquistanês The Friday Times, em defesa da indiana. “A democracia deveria conter o poder militar. A informação deveria manter a democracia representativa do povo. Mas se o algoritmo da mídia está nas mãos das elites políticas, então a verdade também está. Sabemos mesmo o custo da guerra? Estou com Arundhati quando ela faz perguntas inconvenientes enquanto todos preferem afiar suas lanças com veneno”, escreveu.

A paquistanesa feminista conta como já foi ela mesma fã da lâmina. Como os tiranos ofereciam a ela histórias melhores. Que, na sanha da vingança, tratava seus sentimentos como razão e suas opiniões como informação. Ao observar a realidade concreta das pessoas da Caxemira, especialmente das mulheres, Aisha percebeu como a guerra, a cada conflito, nunca resolvia o problema como se propunha. Mas alimentava econômica e politicamente os exércitos, as elites e os fascistas.

“Recuso-me a não conhecer os indianos. Recuso-me a reduzi-los a uma paródia de Bollywood. Para mim, eles não serão um monólito de homens espumando de raiva. Não me importa se não estendem a mesma graça a mim. As elites intelectuais querem guerra — dos dois lados da fronteira. São os donos da mídia, do algoritmo e do sofá da sala. A paz não é um concurso de reciprocidade. É um ato de dizer a verdade.”

Para Aisha, as narrativas são fundamentais para sustentarem as guerras, e ela aponta como nacionalistas populistas têm se dedicado a propagar suas narrativas mentirosas pelas redes sociais. Algo que conhecemos bem no Brasil. Ela finaliza seu ensaio nos convocando: se as narrativas são tão importantes, precisamos buscar as honestas.


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