Durante muito tempo ouvimos que o avanço da educação levaria à secularização da sociedade. Mas esse tema é mais difícil de ser superado do que os humanistas anteciparam. Religião e espiritualidade estão de novo na moda no Brasil e nos EUA.
Se as pessoas que declaram não ter religião no Brasil constituíssem uma igreja, ela seria a segunda maior do país. Mas apenas uma fração delas se considera ateia ou agnóstica. Ser “sem religião” indica que a pessoa não frequenta uma comunidade de fé regularmente, mas a maioria acredita no sobrenatural e na continuidade da vida após a morte física.
Sociólogos e antropólogos argumentaram nas últimas décadas que o crescimento evangélico está associado à pobreza. Templos se multiplicam nas periferias porque funcionam como redes de assistência social. Como explicar, então, a expansão de igrejas de alto padrão chamadas de “churches”?
O sociólogo Diogo Corrêa argumentou aqui nesta Folha que a expansão evangélica nas camadas médias e altas pode estar relacionada à polarização e à guinada conservadora da sociedade. Artigos recentes no Washington Post e no New York Times apresentam explicações complementares.
Os EUA andaram muitos anos na contramão dos países ricos em termos de religião. Lá o cristianismo permanecia parte da vida mesmo de famílias abastadas. Mas, a partir dos anos 1990, essa tendência mudou de rumo e mais jovens cresceram sem a obrigação de frequentar igrejas. Agora eles buscam essa vivência por conta própria.
Na ausência de experiências formais, esses jovens procuram alternativas para cultivar sua espiritualidade. Uma reportagem de 2023 do Washington Post registrou que esse segmento está mais interessado por astrologia, tarô, yoga ou pelo consumo de substâncias psicoativas como cogumelos e ayahuasca.
A repórter do New York Times Lauren Jackson condensou um ano de trabalho examinando por que a religião está novamente em alta no país. E a conclusão é que não apareceu nada que substitua essa prática satisfatoriamente.
A reportagem traz um cenário complexo, associado, entre outras coisas, aos efeitos psicológicos provocados pela pandemia do Covid-19. Somos informados sobre a conversão de hispters e de profissionais do setor tecnológico. Originalmente conquistados pelo neoateísmo de autores como Richard Dawkins, eles vêm redescobrindo práticas religiosas.
Mas por trás dessa guinada está a percepção de que a espiritualidade melhora a qualidade de vida. Ouvindo muitos especialistas, a repórter explica que a fé institucional oferece um pacote de “serviços” que inclui maneiras para lidar com crença, pertencimento e regras para a vida.
A crença ajuda a responder perguntas existenciais como “o que faço aqui?” ou “por que estou atravessando esta dificuldade?”. O pertencimento se materializa em redes de solidariedade que, além de afeto, ajudam a resolver problemas. As regras, por sua vez, servem como guia para orientar decisões em um mundo acelerado.
Agora, ateus e agnósticos terão que oferecer mais do que apenas argumentos para conquistar novas audiências.
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