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Cena do cotidiano – 25/05/2025 – Ana Cristina Rosa

Não há credencial, talento, fama, reconhecimento ou fortuna capazes de blindar uma pessoa negra contra o racismo e o preconceito étnico-racial no Brasil. Há alguns dias, a advogada baiana Vera Lúcia Santana Araújo, ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral, foi barrada ao tentar ingressar no prédio onde funciona a Advocacia-Geral da União para participar de um evento promovido pela AGU, onde seria palestrante.

O que aconteceu com ela ocorre todos os dias com milhões de pessoas pretas e pardas no Brasil e, em geral, “não dá nada” além da humilhação e da dor suportados por uma massa negra. A discriminação contra a ministra Vera Lúcia veio a público e passou a integrar o rol cada vez maior de escândalos de natureza étnico-racial porque ela é uma figura pública —ou seja, não se trata de uma “negra qualquer”.

Afinal de contas, o racismo à brasileira se perpetua porque foi naturalizado sob a maquiagem barata do “mal-entendido” ou do “ato não intencional”. Mas estamos falando de um crime inafiançável e imprescritível, previsto na Constituição Federal.

Isso é incontestável.

Recentemente foram divulgados dados de uma pesquisa nacional que mapeou, pela primeira vez, a frequência com que os brasileiros se sentem discriminados no cotidiano. O resultado evidenciou o que qualquer pessoa com um pingo de consciência e senso de percepção da realidade já sabia: raça é o principal fator de discriminação neste país.

A discriminação racial, uma das muitas facetas do racismo, manifesta-se pela imposição de tratamento desigual e injusto a um determinado grupo de pessoas. Tudo por conta de crenças e preconceitos que perpetuam a opressão de uns em favor do privilégio de outros.

Não há desculpa cabível que justifique passar pano para um crime que afeta milhões de cidadãos e, a despeito disso, é naturalizado pelo Estado. Como observou a ministra Vera Lúcia, “o preconceito de cor é uma construção do Estado e o racismo permeia todos os espaços.” Pergunto: Até quando?


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