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A geração do salário premium e rotina gourmet – 28/04/2025 – Natalia Beauty

Semana passada, ofereci uma promoção para uma colaboradora. Competente, promissora, com potencial real para liderar. Era uma oportunidade de ouro. Ela recusou, e sabe qual foi a justificativa?

“Não quero perder minha liberdade. Quero viajar. Trabalhar de onde eu quiser. Um cargo de liderança tem muita imprevisibilidade. É muita responsabilidade e, sinceramente, não tô nessa vibe agora.”

Não é piada. Isso está virando padrão. Crescer virou sinônimo de perder qualidade de vida. Liderar virou sinônimo de virar escravo, e responsabilidade virou um fardo indesejável.

A geração do “não fui contratado para isso” agora evoluiu para a geração do “não quero liderar para não me incomodar”. Um bando de adultos de 30 anos com alergia a compromisso, medo de cobrança e aversão a qualquer coisa que tire o brilho do feed.

Querem liberdade, home office na praia, propósito, equilíbrio emocional, day off de saúde mental, tapete vermelho no feedback e aumento anual, e tudo isso sem sair da zona de conforto. E quando a empresa dá a chance de subir um degrau, a resposta é: “não quero perder minha flexibilidade”.

Vamos deixar claro: o problema não é querer qualidade de vida. O problema é querer tudo isso sem entregar nada além do básico. É querer salário de gestor com a rotina de um freelancer sem prazo. É cobrar reconhecimento sem aceitar responsabilidade e depois ainda reclamar que o Brasil não valoriza o jovem.

Você quer o quê, exatamente? Um cargo em que ninguém te cobre? Um salário que não exija esforço? Uma equipe que funcione sozinha enquanto você viaja pela Ásia postando textão sobre autocuidado?

A realidade é mais dura do que os carrosséis de fotos das redes sociais e empresa não é ONG emocional. Crescimento exige entrega, liderança exige presença e, sim, isso pode significar abrir mão de um final de semana, resolver um pepino fora de hora ou ser cobrado por um resultado que não depende só de você. Isso se chama responsabilidade e parece que virou palavrão.

Estamos criando uma geração de profissionais que foge de qualquer coisa que envolva peso. Que romantiza a leveza enquanto transfere o trabalho duro para quem tem “perfil mais comprometido”. Que acredita que dizer “não estou pronto” é sinal de autoconsciência quando, muitas vezes, é só covardia disfarçada.

Sabe quem cresce no mercado? Quem topa o desafio mesmo com medo, quem entende que liderança não é sobre estar 100% pronto, é sobre estar 100% disposto, e quem aceita que sim, o sucesso tem custo, inclusive o de abrir mão de certas regalias para construir algo maior.

O problema não está na empresa. Está no profissional que quer ser tratado como protagonista, mas só age como figurante. Que quer assinar o crachá da revolução, mas não quer nem sentar na cadeira do comando. A verdade dói, mas precisa ser dita: quem não quer responsabilidade, não está pronto para vencer.

E quem prefere conforto a compromisso, que não se espante quando for esquecido nas decisões que importam. Porque liderança pode não ser “a sua vibe agora”, mas um dia você vai perceber que a vida real não premia quem se protege da responsabilidade. Ela recompensa quem carrega.


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