Maridos normais adoram colocar a culpa na mulher por tudo que não dá certo. Os extraordinários assumem a culpa por ela. Lula é um desses maridos. Se todos fossem como ele, não haveria esposas carentes e descontentes. Sua musa, Janja da Silva, tem charme, é uma mulher interessante, não é difícil entender o apaixonamento de Lula.
A última prova de amor aconteceu há poucos dias, no outro lado do mundo: na China, o berço moderno da liberdade de expressão. Em uma reunião da comitiva presidencial com o presidente Xi Jinping, Janja pediu a palavra e criticou o TikTok por favorecer a extrema direita no Brasil. Alguém (quem?), depois de se contorcer de desconforto diplomático, vazou a fala, o que gerou constrangimento e repercutiu negativamente.
O marido-presidente ficou irritado. Disse que a conversa do jantar com os chefes de governo era uma conversa “íntima” e que foi ele quem teria trazido o TikTok à tona na reunião. “Alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa de um jantar muito confidencial e pessoal.” Justo ele, que preza tanto o diálogo, a transparência. Não desperdiçou a oportunidade de tecer elogios à sua consorte, declarando que ela entende melhor do que ele sobre matéria digital, o que automaticamente a elevou à categoria de expert.
Dizem que o amor é cego, que o amor move montanhas. Parece ter também o poder de transformar regimes totalitários em modelos de liberdade. Embriagado de paixão, Lula não só legitimou a fala de Janja como foi além: pediu ao companheiro Xi Jinping um “homem de confiança” dele para ajudar o Brasil na uma regulação do TikTok. Ideia genial. Se não fosse o líder político que mais controla e manipula a internet em seu país, que monitora em tempo real e pune cidadãos que criticam o governo.
O presidente tentou ampliar o debate trazendo à tona os efeitos nocivos das redes sociais para crianças e mulheres. De fato, uma preocupação gritante, mas que, convenhamos, não era o foco. Lula não apenas encobre as gafes da esposa, ele as abraça como se fossem políticas de governo. É amor que chama, né?
Ai se fosse eu. Vivo dando mancadas, confundo nomes de pessoas, falo coisas impróprias, para pessoas impróprias, nas horas impróprias. Rio nas horas em que não posso rir, choro quando ouço Peninha. Meu marido nunca se orgulhou disso, nunca tentou disfarçar e muito menos assumiu a culpa por alguma gafe minha —ele jamais faria isso, nem aqui nem na China. Quando muito, se afasta de fininho e finge que não me conhece.
Janja não é uma cidadã de segunda classe. Nunca ouvi ninguém falar isso, mas Lula tem toda razão de reafirmar. Ela não só não é uma cidadã de segunda classe, como é a protagonista, a copresidenta. Com ou sem voto. Com ou sem cargo. Com ou sem diplomacia. Mas quem se importa com isso quando se tem tanto amor envolvido?
Quisera eu ser a primeira-dama da minha casa. Ser paparicada. Poder falar bobagens sem ser repreendida. Acompanhar as viagens de trabalho do meu marido, palpitar nas reuniões e ser aplaudida de pé por ele.
Maridos, aprendam com Lula: quando sua mulher fizer alguma besteira, não critique; quando der alguma gafe, critique os vazamentos —nunca o vexame. Invente um novo regime de governo, mude a Constituição, convoque um ditador estrangeiro. Mas nunca, jamais, diga que ela errou. Isso sim seria uma crise de Estado … Civil.
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