Quando fiquei pensando no que a festa tinha reverberado como efeito em mim, pensei que algo tinha se movido, porque aquele tinha sido um ritual “de verdade”: espontâneo, genuíno, sem pressa ou marcações de tempo. Um ritual que aconteceu como deveria acontecer. Que foi intencionado, construído, pensado, planejado mas que, na hora, aconteceu. Ou seja: dá para a vida ser assim.
Havia um horário para a festa começar e os convidados foram chegando aos poucos. Havia um tempo programado para a festa durar e ela foi acontecendo. Havia um horário marcado para o almoço começar e ele foi sendo servido. Havia um horário previsto para a banda tocar e ele foi chegando. Mas não havia pressa.
E como isso é possível? O que diferencia o tempo do ritual que é assim do tempo de um ritual cronometrado? Fiquei pensando como o ritual cronometrado (assentado na ideia de controle do tempo) é tão diferente do ritual experimentado (assentado talvez num plano em que cabe o tempo que dura, que deve ser cuidado, combinado, partilhado, mas onde cabe a nossa humanidade).
Vamos ficar no exemplo dos casamentos e como são estas festas hoje (e, claro, estou falando do meu lugar, das festas que observo e do que vejo acontecer no mundo, portanto, sim, parto de um viés). Contrata-se uma empresa, um cerimonial, que pensa todos os passos da festa; contrata-se uma pessoa para cuidar da comida, de tudo que vai ser oferecido aos convidados. Tem gente que tem até “wedding planner” (pessoa que planeja e produz o casamento). No final, aquele momento e aquele processo que eram para ser de desfrute viram momentos de tensão extrema e estresse.
A festa, que deveria ser uma celebração, justamente a ritualização de um amor, vira um grande script que precisa ser cumprido passo a passo, medido no tempo do relógio, com dezenas de etapas e metas a serem cumpridas; até os registros, as fotos obedecem a um roteiro previamente estabelecido sem muito espaço para algo diferente do que foi programado.
Ao fim, claro que existe um divertimento, uma confraternização nestas festas hiperprogramadas —claro que eles não são totalmente esvaziados de sentido (e pode ser que eu esteja exagerando ou romantizando, porque estou de fato muito tocada e sensibilizada por essa festa que vivi), mas é fato que algo se perde na festa-produto.