Os investigados por envolvimento no esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) compraram, entre 2018 e 2025, ao menos 47 imóveis com valor estimado em R$ 35 milhões, segundo a Polícia Federal. A Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, apura o desvio de recursos por meio de descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) aparece no centro das investigações. Segundo a PF, a entidade arrecadou mais de R$ 2 bilhões por meio de descontos aplicados sobre os benefícios de 1,3 milhão de segurados. Só para a empresa Orleans Viagens e Turismo, a Contag repassou R$ 5 milhões. A PF identificou que a empresa comprou 16 salas comerciais em São Bernardo do Campo (SP) entre março de 2020 e novembro de 2024, totalizando R$ 3 milhões. Também adquiriu um apartamento em Diadema e 11 veículos.
Os sócios da Orleans, Silas Bezerra de Alencar e Wagner Ferreira Moita, também estão na mira da PF. Alencar gastou R$ 5,4 milhões em seis imóveis em São Paulo desde 2019. Já Moita investiu R$ 1,8 milhão na compra de apartamentos no litoral paulista.

Dentro da estrutura da Contag, diretores e assessores também realizaram aquisições suspeitas. O diretor Alberto Ercilio Broch comprou um apartamento em Brasília por R$ 1,6 milhão. A secretária-geral Thaisa Daiane Silva adquiriu uma casa e uma gleba no Mato Grosso do Sul por R$ 600 mil. Já a secretária de Políticas Sociais, Edjane Rodrigues, investiu R$ 330 mil em um imóvel no Distrito Federal.
Outro personagem-chave do esquema, segundo a PF, é Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, acusado de desviar R$ 53 milhões. Em 2024, comprou à vista uma casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, por R$ 3 milhões. Em 2020, havia pago R$ 216 mil por um terreno e imóvel em Vicente Pires.
Antunes utilizou empresas próprias para movimentar parte dos recursos. Sua offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, a Camilo & Antunes Limited, adquiriu quatro imóveis em Brasília e São Paulo, com depósitos de R$ 11 milhões. Outras empresas do grupo também adquiriram imóveis em São Paulo, Brasília e até nos Estados Unidos.
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O ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho, exonerado em 23 de abril, comprou quatro imóveis avaliados em R$ 4,6 milhões. Sua esposa, Thaisa Hoffmann Jonasson, comprou três imóveis no Paraná por R$ 2 milhões, em nome da sua empresa THJ Consultoria. A mesma empresa adquiriu outro imóvel por R$ 230 mil em 2024.
A PF aponta que a organização criminosa fraudava a autorização de descontos em folha de pagamento, usando associações de fachada e falsificação de assinaturas. O prejuízo estimado ultrapassa R$ 6,3 bilhões, e ainda foram evitadas perdas adicionais de R$ 5,2 bilhões com a deflagração da operação.