A proposta é simples: já que ninguém consegue dar conta de tudo e tudo é cada vez mais coisa e as coisas são cada vez mais complexas, que tal ser menos ambiciosos, baixar nossas próprias expectativas e nos dedicar mais a menos?
Ou mais ainda: que tal abdicar de quase tudo que finge ser importante e dar importância a quase nada?
Pensei nisso porque, graças à internet, fiquei sabendo que terça-feira, 29 de abril, foi aniversário do comediante Jerry Seinfeld, que comemora 71 primaveras e tem como imenso legado a criação imortal do (já) clássico sitcom que usa seu sobrenome como título.
“Seinfeld” teve nove temporadas, foi ao ar (nos States) de 1989 a 1998, fez um baita sucesso com personagens e (vários) episódios inesquecíveis e tinha como lema informal: “a show about nothing”, um show sobre nada.
O que prova que um bom slogan não precisa corresponder à verdade. “Seinfeld” tratava (muitas vezes com obsessão) das pequenas coisas do dia a dia: detalhes, irritações, alegrias, constrangimentos, expectativas, ansiedades, surpresas, encontros, manias, divagações e muito mais.
Ou seja, o “show sobre nada” falava, praticamente, de tudo. Servindo também como ótimo exemplo de um dos mais fundamentais postulados do nosso grande filósofo Tim Maia: “Tudo é tudo e nada é nada”.
Infelizmente, embora não pareça que seja isso tudo, lidar com o nada não é nada simples. Primeiro é necessário definir, ou escolher, de que nada estamos falando.
Talvez o nada mais desejado, sonhado ou conhecido seja o “fazer nada”, o famoso “dolce fare niente”, que nem sempre é tão dolce assim.
Afinal, a vida é curta, mas os dias são longos. Não fazer nada, mesmo para a ínfima minoria que desconhece a existência de boletos, pode ser arriscado. Ainda não inventaram blindagem 100% garantida contra os ataques mais frequentes e violentos do tédio ou dos seus similares mais parrudos.
É melhor então não radicalizar: não fazer nada, fazendo algumas coisas. De preferência, coisas legais, prazerosas, relaxantes que nos ajudem a ficar mais leves, esvaziar a mente e atingir um estágio mais elevado: o “pensar em nada”.
Nível esse, que dizem, ou me disseram, ser possível atingir através da prática da meditação. Numa primeira etapa, antes de chegar ao almejado “pensamento zero”, deve-se repetir, mentalmente, um único mantra, para fazer que este ocupe por completo sua atividade consciente e não deixe entrar nenhum outro pensamento.
Parece simples, mas não para mim. Toda vez que tentei pensar só num pensamento para evitar qualquer outro, pensei que esse já era outro pensamento e pensar sobre esse provável segundo pensamento já configuraria um terceiro e assim sucessivamente.
Não achei relaxante.
Resolvi pensar em outra coisa, o que me levou a pensar que se não dá para pensar em tudo, igualmente difícil é pensar em nada.
Então o jeito é pensar em algo para fazer, ou fazer algo para pensar, mas não agora. Semana que vem eu penso nisso e vejo o que faço.
Ou não.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.