Segundo definição adotada pela Zero Waste International Alliance, o desperdício zero é a conservação de todos os recursos por meio da produção, consumo, reutilização e recuperação responsável de produtos, embalagens e materiais, sem queima e sem descargas no solo, na água ou no ar que ameacem o meio ambiente ou a saúde humana.
O desperdício é um sintoma de modelos equivocados de produção e consumo. O desperdício zero é uma filosofia que visa erradicar completamente as causas do desperdício. O total de resíduos gerados no mundo deve dobrar de 2 bilhões de toneladas em 2016, para 4 bilhões em 2050.
Enquanto, até então, a gestão de resíduos era utilizada para minimizar danos ambientais, o desperdício zero muda o foco da gestão de resíduos para a gestão adequada dos recursos naturais, construindo resiliência e estimulando a preservação da natureza para as gerações futuras.
A ONU Habitat lançou o programa Waste Wise Cities, para enfrentar a crescente crise global da gestão de resíduos nas áreas urbanas. Esses resíduos provenientes de residências, mercados, empresas e instituições, em muitas cidades, têm sido lançados nas ruas, nos esgotos, ou queimados ao ar livre. Essa prática provoca inundações, poluição do ar e da água, ajuda a proliferar doenças, com consequências para a saúde das pessoas, afetando especialmente a população mais carente.
O programa da ONU se baseia na incorporação pelas cidades, em sua estratégia de gestão de resíduos, de 12 princípios-chave.
Destacam-se entre esses princípios: ter perfeito controle sobre o tipo e a quantidade de resíduos gerados; estabelecer melhores condições de trabalho para aqueles que trabalham com resíduos, seja em empregos formais ou informais; avaliar e implementar cuidadosamente alternativas tecnológicas inovadoras; elaborar planos estratégicos de longo prazo para a urbanização, que considerem plenamente a geração e o tratamento de resíduos sólidos; conceber incentivos, inclusive financeiros, fomentando a transição para uma economia mais circular; e incentivar o “repensar resíduos” por meio de esforços de educação e sensibilização do público para mudança de atitudes.
A ONU se propõe a ajudar os municípios que quiserem implantar esse programa, auxiliando na construção de sistemas de monitoramento de dados sobre resíduos, compartilhando conhecimento e boas práticas, fornecendo um kit de ferramentas educacionais e material para sensibilização da população, além de apoio financeiro para financiamento de projetos.
A cidade de Talin, capital da Estônia, apresentou oficialmente a sua candidatura para se tornar uma cidade com desperdício zero. A cidade tem objetivos ambiciosos e pretende: aumentar o recolhimento seletivo de resíduos para 66% até 2026 e 70% até 2030; elevar a taxa de reciclagem para, pelo menos, 65% até 2035; reduzir o descarte em aterros para menos de 5% até 2026; eliminar gradualmente a incineração de resíduos indiferenciados; definir uma meta de redução de resíduos na cidade até março de 2026; e investir na educação e na sensibilização do público para aumentar a participação dos cidadãos.
Cidades já enquadradas no modelo de desperdício zero incluem Kamikatsu, no Japão; Capannori, na Itália; Bratislava, na Eslováquia; São Francisco, nos EUA; Vancouver, no Canadá; e Flandres, na Bélgica. Mas muitas outras estão adiantadas nesse processo.
O futuro das cidades com desperdício zero parece promissor, mas alcançar estes objetivos ambiciosos requer esforços concentrados para possibilitar a implantação de legislação adequada, investimento em inovações tecnológicas, educação, e desenvolvimento de mecanismos para envolvimento da comunidade.
A adoção desse modelo pelas cidades é extremamente desejável, entretanto, estes objetivos dificilmente serão alcançados se não houver estreita colaboração entre governos, empresas, organizações sem fins lucrativos e organizações internacionais que possam promover a partilha de melhores práticas e recursos.
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